20:20 - O sinal do universo!
- estudio llwillsilva
- 13 de mar.
- 3 min de leitura

Eu acordei hoje com uma sensação estranha. Não sabia direito o que era. Pressentimento é um inferno. Você sente antes e, na maioria das vezes, nada acontece depois. Se for minha mãe, bem, aí a lógica muda. Ela é como aquelas pesquisas que têm uma probabilidade de erro de dois por cento para mais ou para menos. Se ela pressentiu, ferrou.
Leva o guarda-chuva! Levo. Pega uma blusa! Pego. Cuidado no carro do Uber! Pego o ônibus. Mas agora, como ela vive muito longe de mim, fico sem uma bússola confiável. Eu até liguei hoje para ela, para ver se vinha alguma dica ou um sinal. Nada. Conversa normal.
Quando acordo assim, pareço um detetive dos sinais. Fico tentando fazer conexões e ligações com qualquer coisa que acontece. Teve uma época em que toda vez que eu olhava no relógio e via hora dobrada — 10:10, 11:11, 15:15… — sem lógica nenhuma, eu achava que era um sinal positivo. Já tomei decisões importantes depois de me deparar com uma hora dobrada no momento em que estava em dúvida sobre o que fazer. Me dei mal. Ah, lembrei de outra coisa: comecei a escrever o roteiro de um filme chamado "12:12". Nunca terminei.
O dia está acabando. Pensei em escrever esse texto para tentar aproveitar essa sensação de alguma forma. Vai que tenho uma ideia bem legal durante a escrita. Nada. Levei o dobro do tempo que geralmente gasto para escrever essa quantidade de palavras. São 19:58 e não sei mais o que fazer. Senti que perdi um dia inteiro, como se estivesse esperando uma visita que não chegou ou um compromisso que não aconteceu.
Eu tinha jogado esse texto dentro da pasta “não ficou bom”, para ele morrer com o tempo, junto com outros textos que não merecem ser lidos nem relidos. Fechei o computador, tranquei a sala e segui o caminho de casa. Antes de sair do prédio peguei a correspondência: só um spam impresso e uma carta para o antigo locatário da sala. As cartas eu guardei na bolsa, e os panfletos eu fiz uma bolinha amassada e joguei na lata de lixo. Errei, caiu fora, peguei de novo e joguei novamente. Caiu fora. Com raiva, peguei a bolinha novamente e joguei com toda a força do mundo, de uma distância que era impossível errar. Cesta!
E foi então que ele apareceu. A força com que joguei a bola de papel deslocou parte do lixo e apareceu uma nota de vinte reais. Peguei o celular para tirar uma foto e, para minha surpresa, eram 20:20. Meu coração quase parou. Achar uma nota de 20 reais às 20:20 foi muito emocionante. Fiquei extremamente empolgado apesar disso não significar absolutamente nada. Mas, depois do dia que passei procurando qualquer migalha de sinal, essa situação foi transformadora.
Só havia um problema. Eu não estava pensando em nada naquela hora. Não tinha nenhuma decisão que eu precisava tomar. Não tinha dúvida de nadinha. A única coisa que consegui imaginar naquele momento foi esse texto, que, assim como a bolinha de papel, eu também tinha jogado no lixo. Será? Voltei para a sala para pensar um pouco mais no assunto. Eu tinha acabado de receber uma mensagem dupla do universo e precisava fazer alguma coisa. Duas opções me vieram à mente: ou o sinal era para não jogar esse texto fora, ou esse texto tinha a mesma função da bolinha de papel — deslocar o que estava dentro para revelar algo de valor. Abri o computador para checar a pasta "não ficou bom”. Tem 721 arquivos de texto. Opa! Se eu tirar esse que acabei de jogar vai ficar 720 arquivos. Não é possível! O vinte apareceu novamente.
Agora não tem jeito. Preciso aceitar esse sinal. Amanhã vou começar a reler todos esses textos. Vou criar uma pasta chamada “é ruim mesmo” e sentenciar novamente aqueles que não merecem ser relidos nunca mais. A ideia de voltar a esses textos renegados é tão animadora quanto vasculhar outras lixeiras a procura de mais dinheiro. Mas, fazer o quê? Ou é isso, ou é um pensamento cíclico por dias: “O universo te mandou um sinal e você não fez nada! Incompetente.”
Decidi postar esse texto mesmo achando ruim, porque não consegui decidir se ele faz parte ou não do sinal dos vinte. Por via das dúvidas, vou deixar meu pix aqui também. Vai que algum milionário, assim como eu, está procurando algum sinal, e esse texto cai em seu colo. Por identificação com minha paranoia, ou até mesmo por pena, ele decide fazer uma doação de vinte reais, ou duzentos, ou dois mil ou... Será?
pix: willcine@gmail.com
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